quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Desapegar sim, desigrejar não!

Nos dias atuais, assistimos a uma onda de rejeição por parte de muitos evangélicos quanto à vida congregacional: é o fenômeno dos “desigrejados”. Eles dizem seguir o Evangelho, porém sem frequentar uma denominação. Talvez sejam apenas uma versão evangélica do bom e velho “católico não praticante”; talvez isto seja só uma desculpa para não irem mais à “igreja”; talvez seja um monte de gente que resolveu chutar o balde e viver como bem entender, mas talvez haja pessoas sinceras no meio disso tudo, que realmente se cansaram dos, sei lá, 10% de Evangelho diluídos em 90% de regras de homens. Todo caso, é bom notarmos que problemas pessoais e falhas inerentes às instituições não são justificativas para o “desigrejamento”.

Eu particularmente me considero um “desapegado” institucional. Não vou aos cultos por força de um cargo nem vejo os dirigentes como meus “superiores” (no sentido hierárquico do termo). Congrego ali mas não “sou” dali, o meu vínculo não é com a denominação: eu trabalho em prol do Reino dos Céus, inclusive lá dentro, mas não espero reconhecimento humano. Deste modo, não abro mão da minha liberdade cristã, pois quem me julga é a Palavra de Deus (Bíblia), mas também não deixo de me reunir em comunhão com outros irmãos para louvar e adorar a Deus. Este é o posicionamento mais maduro ao qual eu já cheguei acerca do delicado equilíbrio entre vida espiritual e vida religiosa.

Creio que todos os que procuram servir a Deus com sinceridade deveriam ser desapegados neste sentido, e que esta é uma postura bem mais acertada do que simplesmente “desigrejar”. É preciso sim desapegar daquela visão corporativa de igreja, com prédios todos parecidos, hierarquias, funções meramente burocráticas, bajulações, etc., mas não é necessário “jogar o bebê fora junto com a água suja”. Se compreendemos que a Igreja são as pessoas, e não os templos, então também devemos reconhecer que as pessoas são imperfeitas e que, portanto, nenhuma “igreja” será perfeita, pois todas elas são reuniões de pessoas, gente tão sujeita a erros quanto eu e você. Deste modo, creio que argumentos como “falta de amor dos irmãos” e “erros doutrinários” (a não ser heresias) não são válidos para alguém deixar de congregar.

Não nos esqueçamos ainda de que a salvação é individual: convém a cada um seguir a Cristo sem olhar para os lados. Todavia, o culto a Deus é coletivo. Não fosse assim, Jesus não teria enunciado em Mateus 18:20 um princípio de reunião: “onde se reunirem dois ou três em meu nome, ali eu estou no meio deles”. Isto posto, eu gostaria de finalizar deixando algo para os nossos queridos amigos “desigrejados” refletirem: Jesus escolheu apenas 12 homens para serem seus apóstolos, sendo que dentre eles um o traiu, outro o negou três vezes e o outro duvidou da Sua ressurreição. E, mesmo assim, Jesus não desistiu da Igreja...

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Minha oração de olhos abertos

Senhor, que eu nunca me torne um mero frequentador de igreja, um sócio de um clube gospel, um simples membro de uma associação religiosa qualquer. Eu quero Te servir de peito aberto e dando a cara à tapa, como a Bíblia mostra que os Teus servos fizeram no passado.


Eu não peço cargo, título ou posição, eu não quero “boas relações”. Eu quero os Teus dons para que a Igreja seja edificada e o Teu nome glorificado. Eu não quero ser bem visto pelos homens, eu quero ser bem quisto por Ti!

Eu quero ter a coragem dos profetas e o destemor dos apóstolos, que enfrentaram reis e sacerdotes para anunciar a Tua Palavra. Eu não quero ter lugar marcado num banco de igreja, eu não quero ser um burocrata da religião nem um figurante colocado à frente do povo para falar aquilo que eles querem ouvir.

Eu quero ser um homem segundo o Teu coração, um trabalhador em prol do Reino dos Céus, e não um auto-proclamado “servo inútil” que, por enterrar os talentos que Tu lhe deste, torna-se de fato não apenas inútil, mas mau e inútil, digno de ser lançado nas trevas exteriores.

Senhor, livrai-me dos tapinhas nas costas que os hipócritas dão uns nos outros, de receber glória dos homens, de me tornar parte da decoração de um templo de tanto frequentá-lo. Eu quero ser conhecido no Céu e respeitado pelos espíritos na terra. Eu quero ser lembrado pelo que Tu fizeste através de mim, e não pelo status que eu alcancei através de alguém.

Que eu tenha a sabedoria de Jesus para que os simples compreendam o Evangelho mas os arrogantes fiquem sem resposta. Que eu nunca me conforme à religião burocrática, mas que eu tome a forma de Cristo. É o que eu Te peço orando de olhos abertos, sem fórmulas decoradas e nem emocionalismos vãos. Em nome de Jesus. Amém.

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Os pregadores que o povo gosta!

Pode notar: em diversas denominações pentecostais, um certo tipo de pregador sempre conquista a admiração de uma parcela considerável dos fiéis. E, por incrível que pareça, não falo dos que prometem carro novo, casa própria ou prosperidade financeira, e sim dos chamados pregadores de “doutrina”. Mas, não é bem isso o que eles ensinam: na verdade, eles pregam as normas institucionais, os usos e costumes de suas respectivas igrejas como se fossem “doutrina”, ao invés daquilo que é essencial à salvação, ou seja, o Evangelho.


Comecei a perceber isto analisando alguns “ungidões” que eu conheço e outros que já conheci, daquele tipo que os incautos chamam de “jesus purinho”. E o que eles pregam? Regras sobre cabelos, roupas, barba, “vaidades”, bebidas, além de muito chicote nos filhos pródigos. Enfim, tudo se resume a exterioridades, ao conhecido desprezo pelos que pecam e ao ódio pelos que desfrutam a sua liberdade cristã sem se importarem com a opinião deles.

Estes pregadores dão prazer aos legalistas, aqueles que colocam suas regras no lugar da Graça, o favor imerecido. Eles fazem com que este tipo de crente se sinta confiante de que está fazendo a coisa certa. Estes homens passam por “corajosos”, “rígidos”, defensores da “sã doutrina”, porém as suas pregações não contém uma linha sequer de Evangelho. Tudo o que ensinam é a subserviência ao sistema religioso formal em que vivem. Todavia, os religiosos amam aquilo tudo. E, ainda que o sermão os atinja, eles gostam. São masoquistas espirituais.

Aliás, desse tipo de pregador até o diabo gosta, porque enquanto ele está pregando sobre santidade exterior, ele não prega sobre conversão, que é um processo interior; enquanto ele está pregando sobre onde ir, o que comer e o que vestir, ele não prega sobre o amor, sobre o perdão e sobre a fé; enquanto ele está pregando sobre como parecer um crente, ele não prega sobre como ser sal da terra e luz do mundo. Ou seja, o diabo agradece, pois sabe que o sujeito está desviando a atenção dos fiéis das coisas que realmente importam à salvação.

Ao mesmo tempo em que o pregador ataca os que não se encaixam no estereótipo da igreja, ele massageia o ego daqueles que o Evangelho condena: os juízes da vida alheia, os não misericordiosos, os caluniadores, os bajuladores, os rancorosos etc. Por isso, quanto mais enferma espiritualmente uma igreja se encontra, mais sucesso fazem os “durões” dos púlpitos. Uma igreja sadia não dá “glória” vendo alguém ensinar doutrinas humanas no lugar da Palavra de Deus. Entretanto, estes pregadores falam o que eles sabem que a sua platéia gosta de ouvir. Afinal, eles são os pregadores que o povo gosta!

quarta-feira, 8 de novembro de 2017

Enquanto da vitória o almejado dia não chega

Dizem que quando a gente escreve uma poesia é porque a nossa alma está tentando falar... Sendo assim, a minha alma se expressa através deste “poema” num momento de espera, de expectativas frustradas, de aparente falta de horizontes. Contudo, como fez o salmista, digo eu à minha alma: “por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, o qual é a salvação da minha face, e o meu Deus” (Salmos 42:11).


ENQUANTO DA VITÓRIA O ALMEJADO DIA NÃO CHEGA

Enquanto não chega o dia que tanto queremos, vivamos o dia que pela Graça divina recebemos. Enquanto não alcançamos o bem que desejamos, com o mal que a cada dia nos basta convivamos.

Enquanto de sorrir o dia não chega, carreguemos com firmeza a cruz que a cada um destinada esteja. Enquanto a alegria os nossos olhos não mareja, reguemos com tristeza a preciosa semente cuja colheita a esperança enseja.

Enquanto aquilo que para Deus já é ainda não for aos nossos olhos carnais, aproveitemos para exercitarmos a nossa fé e nos tornarmos mais espirituais. Enquanto o dia chamado Hoje for nublado e de escuridão, lembremos que há um Pastor que não nos abandona em meio à tribulação.

Enquanto de erro em erro e de acerto em acerto formos galgando o caminho da perfeição, olhemos para o Mestre, o Autor e Consumador da nossa salvação. Enquanto não chega o tão almejado dia em que descansaremos de todo mal, suportemos deste mundo as aflições, sabendo que Aquele que já venceu nos dará com Ele o repouso eternal.

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Submissão é exercer uma missão sob a missão de outrem


A Bíblia diz que a mulher deve ser submissa ao marido como a igreja o é a Cristo. Submissão não é ser inferior, mas exercer uma missão sob a missão de outrem. O papel da mulher não é competir com o marido nem dominá-lo. O projeto de Deus para ela é que ela se submeta a ele com espontaneidade e alegria. Nenhuma mulher terá dificuldade de submeter-se a um marido que a ama como Cristo amou a igreja. O amor do marido pela esposa deve ser perseverante, sacrificial, santificador e romântico. Ele deve cuidar da esposa e suprir suas necessidades físicas e emocionais. O papel do marido é amar a sua esposa e quem ama declara que ama, tem tempo para a pessoa amada e procura agradá-la. Ele deve elogiá-la, valorizá-la e demonstrar de forma prática o seu amor por ela. É tempo de investirmos na família, nos relacionamentos, a fim de que nossos lares sejam o lugar mais gostoso de se viver na terra.

Hernandes Dias Lopes
 

sábado, 4 de novembro de 2017

Nepotismo: a Igreja sequestrada

Neste post vamos tratar da prática do nepotismo. Para quem não sabe, no âmbito denominacional, o termo se refere à colocação de parentes e amigos em ministérios e outros cargos importantes da igreja. O nepotismo é errado porque é contrário à direção do Espírito Santo sobre quem deve ser colocado no ministério, porque tira a oportunidade de pessoas mais qualificadas desenvolverem seus talentos e porque diminui a isenção do ministério local no tocante às suas decisões colegiadas.


Se nós cremos que o Espírito Santo é quem qualifica o indivíduo para ser usado na Obra, e que também é Ele quem faz saber aos irmãos aqueles que devem ser colocados no ministério, então precisamos concordar que o nepotismo quebra este processo. O operar de Deus na vida de cada um é singular e sigiloso: Deus vai preparando um indivíduo, moldando o seu caráter, revestindo-o dos seus dons, transformando-o na pessoa certa para estar à frente de uma congregação. Agora pense: depois de tudo isso, na hora de escolher um obreiro o trabalhar de Deus é deixado de lado para que a vontade de um homem prevaleça...

A Palavra de Deus nos diz que “se alguém deseja ser bispo, deseja uma nobre função” (1 Timóteo 3:1). Pessoas assim passam a vida estudando as Escrituras, dedicando-se à oração, procurando viver o Evangelho na sua integralidade, preparando-se para o dia de serem usadas por Deus. Entretanto, existem também os solícitos, que são os que desejam títulos eclesiásticos por orgulho e vaidade. Estes geralmente são bajuladores que vivem grudados em pessoas da “alta esfera”, buscando granjear a simpatia deles para serem indicados para algum cargo. O triste é que a prática do nepotismo favorece exatamente este tipo de indivíduo.

Além disso, o problema de termos um ministério local composto majoritariamente na base do nepotismo é que ele deixa muito a desejar em termos de isenção ao julgar qualquer caso, pois o que um decidir a maioria assina embaixo, visto se tratarem em sua maioria de parentes e amigos. Numa congregação onde isto ocorre, a igreja se sente sequestrada, não tendo a quem recorrer (só a Deus mesmo). Diante de tal quadro, a irmandade começa a murmurar e a obra de Deus não vai bem. O ministério se torna um clube fechado e perde a confiança dos fiéis.

Enfim, nós não estamos mais no tempo do Antigo Testamento, onde o sacerdócio pertencia apenas a uma família (a de Levi, conforme Êxodo 28.1-11). Estamos no tempo da Graça, onde todos são feitos Reis e Sacerdotes para o nosso Deus (Apocalipse 5:10). Portanto, supostas “promessas” de "sacerdócio familiar" nos moldes veterotestamentários são altamente questionáveis. Quanto aos familiares de irmãos do ministério que verdadeiramente possuem vocação ministerial, eles devem lembrar que “a seara é grande, mas poucos são os ceifeiros” (Mateus 9:37) e que, portanto, nada mais justo do que eles procurarem seus próprios campos de trabalho, ao invés de se aglomerarem todos numa mesma igreja ou região.

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Como temos tratado os anjos que Deus tem enviado em nosso meio?

Anjos são mensageiros, são trabalhadores a serviço de Deus. Na Bíblia vemos a ocorrência da palavra “anjo” referindo-se a estes seres espirituais, assim como a expressão “Anjo do SENHOR”, que significa uma manifestação corpórea do próprio Deus.

Contudo, além destes, temos aqueles que são usados por Deus na função de anjos: são pessoas de carne e osso, sem nada “sobrenatural” em suas aparências ou ações, mas que servem para tirar indivíduos de maus caminhos, aconselhar, pôr remédio nas feridas, zelar por alguém ou, em determinados casos, testar o que há dentro de nós...


Certa vez Jesus disse: “então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e foste me ver [...] Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.” (Mateus 25:34-36, 40).

Ali Jesus nos ensinou que Deus também se faz semelhante a famintos, sedentos, peregrinos, miseráveis, enfermos e a prisioneiros. É como lemos em Isaías 57:15: num alto e santo lugar habito; como também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos, e para vivificar o coração dos contritos. Observemos ainda o que diz Hebreus 13:2: não vos esqueçais da hospitalidade, porque por ela alguns, não o sabendo, hospedaram anjos.

Diante desta breve exposição, eu gostaria de fazer aos nossos queridos leitores a seguinte pergunta: como é que nós, enquanto Igreja, temos tratado os anjos que Deus tem enviado em nosso meio? Não falo dos anjos celestes que alguns pregadores dizem ver durante os cultos, e sim dos anjos terrestres que nós enxergamos muito bem com os nossos olhos carnais. Aqueles que muitas vezes entram em nossas congregações sujos, malcheirosos, com vestes inapropriadas, pedindo um lugar para sentar e nós lhes apontamos o caminho da rua...

Alguém já parou para pensar que um bêbado ou um mendigo, por exemplo, pode estar sendo usado por Deus para testar o nosso amor? Que deveríamos encarar estas situações como oportunidades graciosas que Deus nos dá para praticarmos a caridade? Mas não: nós nos consideramos bons demais para sentarmos perto de qualquer pessoa que esteja à margem da sociedade. Todavia, era exatamente com esse tipo de pessoa que Jesus andava... Amados, tenhamos muito claro que Deus não nos chamou à indiferença, pois os indiferentes não amam.

Devemos clamar muito mais a Deus pelo dom do amor, pois quem ama tem “olhos para ver” anjos onde outros só veem trapos humanos; tem olhos para ver almas sedentas das Águas Vivas onde outros só veem “samaritanas”; tem olhos para ver filhos pródigos arrependidos onde outros só veem “pecadores que não merecem mais a misericórdia de Deus”; tem olhos para ver peças-chaves nos planos divinos onde outros só veem “Raabes”; tem olhos para ver Jesus em qualquer um que necessite de um gesto de amor fraterno.

Precisamos parar de querer ver “anjos de branco” fazendo acrobacias dentro dos templos e começar a enxergar anjos nos pobres, marginalizados, alcoólatras e maltrapilhos que Deus, em sua extrema bondade, ainda nos faz o favor de trazer até o conforto das nossas congregações. Tratemos a eles com amor, pois de desprezo, maus-tratos e zombaria estas pessoas já estão cheias. Cuidemos deles como se estivéssemos cuidando de anjos. Um dia — bendito seja o Eterno! — poderemos reencontrá-los na Glória de Deus, tão verdadeiramente anjos quanto qualquer um de nós...

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Minha Reforma é Cristo: o resto é intelectualismo humano


Hoje, 31/10, grande parte do mundo cristão comemora o aniversário da Reforma Protestante. Sem dúvida, tal acontecimento foi um verdadeiro divisor de águas na História da Igreja: o acesso à Bíblia foi universalizado, heresias foram desmascaradas, ensinos realmente bíblicos vieram à luz. Todavia, nem todas as flores do jardim da Reforma foram tão cheirosas...

Tudo isto é de um valor extremo para nós, evangélicos, tanto para os que são chamados de "reformados" quanto para aqueles que não carregam esta "condecoração". Entretanto, algo que me causa estranheza é a maneira como a Reforma é comemorada: parece o modo pelo qual as pessoas em geral comemoram a independência de um país ou a descoberta da América, por exemplo. Os nomes dos líderes são citados em caixa alta junto às suas respectivas fotos com alguma legenda abaixo citando seus feitos heróicos.

Deveriam ser assim tratados os homens que Deus quis usar para a finalidade da Reforma? Deveriam ser tratados com tanta honra estes nossos "heróis da fé" modernos? Um dos "Cinco Solas" é Soli Deo gloria (glória somente a Deus), mas como "glória somente a Deus", se os reformados vivem glorificando aos seus teólogos favoritos? E, igualmente, como Sola scriptura (somente a Escritura), se muitos baseiam suas crenças mais em construções intelectuais sofisticadas do que no Evangelho puro e simples?

O apóstolo Paulo foi um instrumento nas mãos de Deus para escrever 13 cartas presentes em nosso Novo Testamento, mas nem por isso cremos ser razoável fazermos homenagens a ele como fazemos a Lutero, Calvino e a alguns outros teólogos de renome. E não o fazemos justamente porque a nossa boa formação cristã nos ensinou que a figura do homem deve diminuir na mesma medida em que o nome de Deus cresce (João 3:30), pois a honra e a glória só a Deus pertencem (1 Timóteo 1:17, Apocalipse 4:9; 4:11; 7:12, Gálatas 1:5, Filipenses 4:20 etc.).

Ademais, o "espírito" da Reforma já existia antes mesmo que alguém usasse o nome "Reforma Protestante" pela primeira vez. Não foi Lutero ou qualquer um dos reformadores que fizeram um "ato heróico", eles apenas disseram: "eis-me aqui" quando Deus decidiu dar um basta à hegemonia de Roma. E, ainda assim, nada impediu que estes mesmos homens de Deus construíssem logo em seguida suas próprias hegemonias ou que, posteriormente, seus seguidores o fizessem.

Portanto, sejamos gratos a Deus pelas boas coisas que a Reforma nos trouxe: não a olhemos de um modo secularizado, dando ênfase ao homem e à sua produção intelectual, como se o mentor da Reforma não tivesse sido Deus. Se os reformadores desejavam um retorno às Escrituras, nada melhor do que comemorarmos a Reforma submetendo os seus próprios escritos ao crivo do Evangelho. A minha Reforma é e sempre será Cristo: o que combina com Ele é Verdade, todo o resto é mera demonstração de intelectualismo humano, por mais que faça chover citações bíblicas sobre a minha cabeça!

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Um contraponto a algumas das “95 teses” propostas ao evangelicalismo brasileiro

Por ocasião do aniversário da Reforma Protestante, um texto intitulado “95 teses para serem fixadas na porta do Evangelicalismo Brasileiro” vem fazendo sucesso nas redes sociais. Apesar de não concordarmos com muita coisa nele, o texto traz várias verdades que realmente ainda precisam ser melhor compreendidas por grande parte dos evangélicos. Por este motivo, nós procuraremos refutar aqui 13 pontos dos quais discordamos, porém, deixaremos o link do texto original para que os leitores sejam beneficiados por aquilo que julgarem edificante.



Passamos a expor nossos pontos de vista, respeitando a numeração do texto em apreço.

9 – “VOCÊ NÃO ESCOLHE CRISTO” – RESPOSTA: Não há dúvidas de que Deus nos amou (1 João 4:19) e nos escolheu (Efésios 1:4) PRIMEIRO. Contudo, depois que nos damos conta do Seu amor por nós, precisamos também amá-LO e recebê-LO em nosso ser: “eis que estou à porta e bato. SE ALGUÉM OUVIR A MINHA VOZ E ABRIR A PORTA, entrarei e cearei com ele, e ele comigo” (Apocalipse 3:20). Quando Jesus diz: “vocês não me escolheram, mas eu os escolhi para irem e darem fruto...” (João 15:16), o que Ele quer dizer senão isso: que Ele nos escolheu primeiro? E como, pois, daremos frutos se não atendermos ao seu chamado? Portanto, Deus nos escolheu primeiro, porém cabe a nós aceitamos ou rejeitarmos essa escolha.

13 – “ARREBATAMENTO SERÁ DEPOIS DA TRIBULAÇÃO” - RESPOSTA: Existem várias interpretações quanto a estes futuros acontecimento, sendo que a opinião do autor é apenas uma dentre elas.

27 – “ARMINIANISMO LIMITA A SOBERANIA DE DEUS”  - RESPOSTA: O Arminianismo nada mais é do que o modo como os cristãos sempre costumaram compreender o Evangelho (e a maioria continua a compreendê-lo até hoje). Arminianismo chega a ser um nome supérfluo, pois na verdade ele é apenas o Cristianismo "default" (padrão). Se bem compreendido, ele preserva o caráter amoroso de Deus e não limita a sua soberania, apenas não transforma esta soberania em tirania, como fazem alguns...

29 – “DEUS ODEIA O PECADO E TAMBÉM O PECADOR” - RESPOSTA: Deus é amor (1 João 4:16) e manifestou o seu amor para conosco enviando seu Filho unigênito ao mundo, para que por ele vivamos (1 João 4:9), para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna (João 3:16). Onde está o “ódio” de Deus nisto pelos pecadores?

30 – “DEUS SALVA QUEM QUER” – RESPOSTA: Pois é, Deus é mesmo soberano. Entretanto, a sua soberania não é como a dos homens, ou seja, tirânica, e sim repleta de amor. Quando Calvino fala sobre a "soberania de Deus", ele revela muito mais o seu próprio caráter do que o caráter de Deus, uma espécie de “o que eu mesmo faria se tivesse todo o poder de Deus?”...

40 – “LEIA LIVROS REFORMADOS” - RESPOSTA: Examinai TUDO. Retende o bem (1 Tessalonicenses 5:21). TUDO, e não apenas literatura que diga coisas com as quais nós já concordamos.

47 – “SATANÁS NÃO ERA ANJO DE LUZ” - RESPOSTA: A compreensão teológica mais aceita é a de que em algum momento satanás foi um anjo de luz que, possuído por orgulho, pretendeu ser igual a Deus. Jesus, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus (Filipenses 2:6). Já satanás, não sendo Deus, quis ser como Ele, para reinar em Seu lugar, mas acabou sendo expulso por Deus do Céu e tornou-se uma antítese de si mesmo.

59 – “NÃO TEMOS LIVRE ARBÍTRIO” – RESPOSTA: É mesmo?! “Eis que estou à porta e bato. SE ALGUÉM OUVIR A MINHA VOZ E ABRIR A PORTA, entrarei e cearei com ele, e ele comigo” (Apocalipse 3:20); “todo o que o Pai me dá virá a mim; e O QUE VEM A MIM de maneira nenhuma o lançarei fora” (João 6:37); Adão e Eva fizeram suas escolhas e pagaram por isso; no passado, Deus escolheu a Israel, mas aquele povo também precisou escolher obedecer a Deus; o Evangelho conclama os pecadores a escolherem crer e se arrependerem (Mateus 3:2; 4:17, Marcos 16:15-16, Atos 3:19, 1 João 3:23). Como, pois, podemos ser chamados a crer e nos arrepender se não formos capazes de decidir fazer isso?

71 – “JUDAS NÃO ESCOLHEU TRAIR JESUS, JÁ ESTAVA PREDESTINADO” – RESPOSTA: Certo é que alguém precisava cumprir o papel de traidor, assim como alguns farão o papel de “filhos da perdição” (João 17:12). Todavia, isto não significa que determinados indivíduos tenham sido criados especificamente para cumprir esta missão inglória. Em sua onisciência, Deus sabe que alguns usarão a sua liberdade para o mal, mas Ele não determina que alguém siga este caminho. Judas era o homem certo para fazer a coisa errada na hora certa. Ele era ladrão (João 12:6) e seguia a Jesus como se Ele fosse um mero líder revolucionário, por assim dizer. Judas se fez apto a exercer o papel que poderia ter sido de qualquer um, e não necessariamente dele. De 12 discípulos que Jesus escolheu, um o traiu, outro o negou três vezes (Pedro) e outro não creu na sua ressurreição (Tomé). Judas era um homem como outro qualquer, não pairava sobre ele qualquer espécie de "decreto divino" para que ele fosse o traidor.

80 – “DEUS NÃO É SÓ AMOR” - RESPOSTA: Deus é amor, mas também é justiça. Ocorre que o ápice da justiça é a misericórdia, de modo que, mesmo sendo justo, Deus sempre continua sendo Amor.

82 – “NUNCA DÊ OUVIDO A ALGUÉM QUE DIZ: DEUS MANDOU TE DIZER” - RESPOSTA: Deus pode perfeitamente usar de alguém para falar algo a uma pessoa nestes termos. O  que é preciso é saber discernir os espíritos e ter conhecimento da Palavra para saber se a mensagem vem de Deus ou não. Qualquer profecia que contrarie o Evangelho é falsa.

83 – “UM SALVO NÃO PERDE A SALVAÇÃO” - RESPOSTA: Usando seu livre-arbítrio, qualquer pessoa pode decidir rejeitar o amor de Deus e morrer no pecado, perdendo assim a salvação. Não se trata da brincadeira do “escreve/apaga o nome do Livro da Vida” cada vez que o sujeito peca ou se arrepende dos seus pecados, mas do fato de que é realmente preciso vencer (Apocalipse 2:7; 3:5; 3:21; 21:7), combater o bom combate, acabar a carreira e guardar a fé (2 Timóteo 4:7).

86 – “DOM DE LÍNGUAS ERA IDIOMAS” - RESPOSTA: Há controvérsias... Existem duas possibilidades fenomenológicas a esse respeito: (1) eram idiomas humanos que o Espírito Santo concedia que aqueles apóstolos com pouca instrução falassem e fossem compreendidos pelos falantes de cada uma daquelas respectivas línguas e/ou (2) eram linguagens espirituais (“estranhas”) mas que por obra divina estavam soando aos ouvidos dos presentes como sendo seus próprios idiomas pátrios. Não há como simplesmente afirmar se foi um caso ou outro ou ainda os dois simultaneamente.

Texto original: 95 teses para serem fixadas na porta do Evangelicalismo Brasileiro
 

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Igrejas: ruim com elas... pior sem elas?...

É impressionante como fazer parte de uma instituição religiosa diminui a nossa liberdade cristã: ela diz o que devemos vestir, onde podemos ir e até com que tipo de pessoa devemos nos casar. Somos constantemente "pajeados", como se fôssemos eternas crianças no entendimento. Se agimos como os bereanos, somos “rebeldes”; se procuramos estudar a Bíblia, somos “presunçosos”; se não idolatramos nossos líderes ou a placa da nossa igreja, somos hostilizados e “gentilmente” convidados a nos retirar.


Tornamo-nos frequentadores de uma denominação qualquer para termos onde louvar a Deus, para cultuarmos a Ele em comunhão com outros membros do Corpo de Cristo. Entretanto, muitas vezes a convivência se torna difícil. Em primeiro lugar porque o amor é escasso entre os “irmãos”: poucos realmente se importam com os outros; a maioria apenas cultiva o amor moral, a amizade pagã: só “amam” alguém enquanto a pessoa segue rigorosamente seus preceitos morais/religiosos. Ao mínimo deslize do indivíduo ele é deixado de lado e sente a animosidade silenciosa da “irmandade”, bem pouco fraterna.

Em segundo lugar, o relacionamento com a membresia é complicado porque você não pode esboçar o menor sinal de independência a um dado sistema religioso. Você não pode comparar o que é pregado com o que as Escrituras dizem porque você é tido como um “incrédulo”, alguém que não “recebe” mais a Palavra. Você não pode questionar um pregador, pois tudo o que sai da sua boca durante uma exortação supostamente é “inspirado” pelo Espírito Santo, de modo que o sujeito é “infalível” enquanto está atrás de um púlpito. Você não pode ter uma postura crítica dentro da denominação porque é visto como uma pessoa indesejável, um perturbador da paz.

Eu penso que a única maneira de sobreviver a uma igreja e aos seus membros por um longo período de tempo é agir como se não fizesse parte daquilo tudo. É como eu invariavelmente respondo quando alguém me questiona se eu “sou” da CCB: eu sou de Jesus, frequento a CCB e sirvo a Deus em qualquer lugar. Tenho algumas poucas e boas amizades dentro do círculo denominacional e no dia a dia guardo 99,9% do que Deus tem me ensinado para a minha própria família (que é a minha primeira Igreja), pois cansei de jogar pérolas aos porcos e depois ser atacado por eles. O que Deus me concede dizer eu escrevo aqui na página, pois assim me preservo um pouco do fanatismo circundante.

De fato, é compreensível o crescente fenômeno dos “desigrejados”: ter consciência do Evangelho, saber que pelo menos 90% das normas das igrejas não passam de doutrinas de homens, conviver com tantas pessoas que apenas fingem gostar de você e ainda se manter naqueles ambientes é coisa que exige muito “estômago”. As igrejas precisam se reinventar, ceder um pouco no tocante aos seus usos e costumes, descentralizarem-se, desmilitarizarem-se, serem mais hospitais e menos tribunais, fabricar mais amor ao próximo e menos regras de boas condutas.

terça-feira, 24 de outubro de 2017

É pecado usar jóias e maquiagens? e o que realmente significa "vaidade"?

“Vaidade de vaidades, diz o pregador, vaidade de vaidades! Tudo é vaidade” (Eclesiastes 1:2). Vaidade não é somente roupas, jóias ou pinturas, mas tudo o que é passageiro, tudo aquilo que não levamos desta existência. Podemos ter fama, fortuna e beleza, mas ao fim tudo passa, tudo é ilusão. Podemos buscar títulos e posições sociais, mas um dia isso de nada nos servirá.

Como notamos, “vaidade” é um conceito muito abrangente, e por isso é um erro resumi-lo simplesmente àquelas coisas que usamos para nos parecer mais belos ou elegantes. Contudo, a maioria das denominações evangélicas ainda persiste no entendimento mais simplista do termo, tratando a vaidade somente como maquiagem, adereços, jóias, roupas etc. O resultado disto é que as mulheres acabam sendo as mais atingidas pelos usos e costumes das igrejas.


A regra das mulheres cristãs quanto à aparência é que “se vistam MODESTAMENTE, com DECÊNCIA e DISCRIÇÃO, não se adornando com tranças, nem ouro, nem pérolas, nem roupas caras, mas com boas obras, como convém a mulheres que professam adorar a Deus (1 Timóteo 2:9,10). O mesmo diz Pedro às mulheres casadas: “a beleza de vocês não deve estar nos enfeites exteriores, como cabelos trançados e jóias de ouro ou roupas finas. Pelo contrário, esteja no ser interior, que não perece, beleza demonstrada num espírito dócil e tranquilo, o que é de grande valor para Deus” (1 Pedro 3:3,4).

Se analisarmos corretamente os dois textos bíblicos, veremos que tanto Paulo quanto Pedro nada disseram contra as irmãs zelarem de suas aparências: eles apenas recomendaram que elas: (a) fossem modestas e discretas, não ostentando objetos caros como ouro, pérolas e roupas de luxo e (b) que se portassem decentemente, não usando sua beleza física para dar ocasião ao pecado, mas sim: (c) se preocupassem ACIMA DE TUDO com a sua espiritualidade, adornando o seu ser interior, isto é, desenvolvendo um caráter verdadeiramente cristão.

O que as Escrituras querem nos ensinar neste particular é a ter senso das proporções, ou seja, a dar a cada coisa o seu devido espaço em nossas vidas. Não faria sentido algum que os apóstolos proibissem as mulheres de usarem brincos, pulseiras ou pinturas, por exemplo, pois estes eram elementos comuns na cultura judaica. Entretanto, Deus quer que usufruamos da nossa liberdade com sabedoria, de modo a não invertermos a ordem das prioridades.

Assim sendo, a Bíblia não proíbe o uso de jóias ou maquiagens, desde que com bom senso, respeitando os critérios estabelecidos por Deus: modéstia, decência e discrição. Este não é o ponto de vista da maioria das igrejas que conhecemos, todavia, é o que a Palavra de Deus diz.