terça-feira, 31 de outubro de 2017

Minha Reforma é Cristo: o resto é intelectualismo humano


Hoje, 31/10, grande parte do mundo cristão comemora o aniversário da Reforma Protestante. Sem dúvida, tal acontecimento foi um verdadeiro divisor de águas na História da Igreja: o acesso à Bíblia foi universalizado, heresias foram desmascaradas, ensinos realmente bíblicos vieram à luz. Todavia, nem todas as flores do jardim da Reforma foram tão cheirosas...

Tudo isto é de um valor extremo para nós, evangélicos, tanto para os que são chamados de "reformados" quanto para aqueles que não carregam esta "condecoração". Entretanto, algo que me causa estranheza é a maneira como a Reforma é comemorada: parece o modo pelo qual as pessoas em geral comemoram a independência de um país ou a descoberta da América, por exemplo. Os nomes dos líderes são citados em caixa alta junto às suas respectivas fotos com alguma legenda abaixo citando seus feitos heróicos.

Deveriam ser assim tratados os homens que Deus quis usar para a finalidade da Reforma? Deveriam ser tratados com tanta honra estes nossos "heróis da fé" modernos? Um dos "Cinco Solas" é Soli Deo gloria (glória somente a Deus), mas como "glória somente a Deus", se os reformados vivem glorificando aos seus teólogos favoritos? E, igualmente, como Sola scriptura (somente a Escritura), se muitos baseiam suas crenças mais em construções intelectuais sofisticadas do que no Evangelho puro e simples?

O apóstolo Paulo foi um instrumento nas mãos de Deus para escrever 13 cartas presentes em nosso Novo Testamento, mas nem por isso cremos ser razoável fazermos homenagens a ele como fazemos a Lutero, Calvino e a alguns outros teólogos de renome. E não o fazemos justamente porque a nossa boa formação cristã nos ensinou que a figura do homem deve diminuir na mesma medida em que o nome de Deus cresce (João 3:30), pois a honra e a glória só a Deus pertencem (1 Timóteo 1:17, Apocalipse 4:9; 4:11; 7:12, Gálatas 1:5, Filipenses 4:20 etc.).

Ademais, o "espírito" da Reforma já existia antes mesmo que alguém usasse o nome "Reforma Protestante" pela primeira vez. Não foi Lutero ou qualquer um dos reformadores que fizeram um "ato heróico", eles apenas disseram: "eis-me aqui" quando Deus decidiu dar um basta à hegemonia de Roma. E, ainda assim, nada impediu que estes mesmos homens de Deus construíssem logo em seguida suas próprias hegemonias ou que, posteriormente, seus seguidores o fizessem.

Portanto, sejamos gratos a Deus pelas boas coisas que a Reforma nos trouxe: não a olhemos de um modo secularizado, dando ênfase ao homem e à sua produção intelectual, como se o mentor da Reforma não tivesse sido Deus. Se os reformadores desejavam um retorno às Escrituras, nada melhor do que comemorarmos a Reforma submetendo os seus próprios escritos ao crivo do Evangelho. A minha Reforma é e sempre será Cristo: o que combina com Ele é Verdade, todo o resto é mera demonstração de intelectualismo humano, por mais que faça chover citações bíblicas sobre a minha cabeça!