terça-feira, 10 de outubro de 2017

Nem todo cego espiritual é cego de nascença...

Nem todo fariseu nasce fariseu, nem todo fanático nasce fanático, nem todo coração de pedra nasce desse jeito. Muitos nascem verdadeiros cristãos, porém vão se tornando hipócritas, legalistas e obstinados com o passar dos anos. Como disse Rui Barbosa, "de tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto".



De igual modo, de tanto ver o falso amor ser celebrado como virtude, de tanto assistir aos maus serem colocados em posições de destaque, de tanto ver o pobre ser humilhado e o rico exaltado, de tanto ver o rigor da doutrina ser aplicado aos desprezados e a misericórdia reservada aos influentes, o bom cristão, por vezes, acaba desanimando de pregar o verdadeiro evangelho, ri-se da indignação dos retos perante as injustiças e se envergonha da cruz de Cristo.

Muitos iniciam sua caminhada com Deus puros, íntegros, amorosos, dedicados ao próximo, mas o cinismo circundante, a atmosfera de bajulação aos “poderosos”, o medo de desagradar aos que podem lhe favorecer em algo e a subserviência ao aparato burocrático religioso que invalida os mandamentos de Deus, tudo isto, ao fim e ao cabo, acabam resultando num adoecimento espiritual profundo dos indivíduos.

Além disso, há um detalhe adicional a ser observado: quando percebemos que estamos reparando demais nos defeitos de alguém, devemos começar a olhar mais pra dentro de nós mesmos, pois, por falta de auto-vigilância, podemos acabar nos transformando naquilo que mais combatemos. Não basta ter visão espiritual hoje: é preciso morrer tendo visão. Nem todo cego espiritual é cego de nascença...