quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Desapegar sim, desigrejar não!

Nos dias atuais, assistimos a uma onda de rejeição por parte de muitos evangélicos quanto à vida congregacional: é o fenômeno dos “desigrejados”. Eles dizem seguir o Evangelho, porém sem frequentar uma denominação. Talvez sejam apenas uma versão evangélica do bom e velho “católico não praticante”; talvez isto seja só uma desculpa para não irem mais à “igreja”; talvez seja um monte de gente que resolveu chutar o balde e viver como bem entender, mas talvez haja pessoas sinceras no meio disso tudo, que realmente se cansaram dos, sei lá, 10% de Evangelho diluídos em 90% de regras de homens. Todo caso, é bom notarmos que problemas pessoais e falhas inerentes às instituições não são justificativas para o “desigrejamento”.

Eu particularmente me considero um “desapegado” institucional. Não vou aos cultos por força de um cargo nem vejo os dirigentes como meus “superiores” (no sentido hierárquico do termo). Congrego ali mas não “sou” dali, o meu vínculo não é com a denominação: eu trabalho em prol do Reino dos Céus, inclusive lá dentro, mas não espero reconhecimento humano. Deste modo, não abro mão da minha liberdade cristã, pois quem me julga é a Palavra de Deus (Bíblia), mas também não deixo de me reunir em comunhão com outros irmãos para louvar e adorar a Deus. Este é o posicionamento mais maduro ao qual eu já cheguei acerca do delicado equilíbrio entre vida espiritual e vida religiosa.

Creio que todos os que procuram servir a Deus com sinceridade deveriam ser desapegados neste sentido, e que esta é uma postura bem mais acertada do que simplesmente “desigrejar”. É preciso sim desapegar daquela visão corporativa de igreja, com prédios todos parecidos, hierarquias, funções meramente burocráticas, bajulações, etc., mas não é necessário “jogar o bebê fora junto com a água suja”. Se compreendemos que a Igreja são as pessoas, e não os templos, então também devemos reconhecer que as pessoas são imperfeitas e que, portanto, nenhuma “igreja” será perfeita, pois todas elas são reuniões de pessoas, gente tão sujeita a erros quanto eu e você. Deste modo, creio que argumentos como “falta de amor dos irmãos” e “erros doutrinários” (a não ser heresias) não são válidos para alguém deixar de congregar.

Não nos esqueçamos ainda de que a salvação é individual: convém a cada um seguir a Cristo sem olhar para os lados. Todavia, o culto a Deus é coletivo. Não fosse assim, Jesus não teria enunciado em Mateus 18:20 um princípio de reunião: “onde se reunirem dois ou três em meu nome, ali eu estou no meio deles”. Isto posto, eu gostaria de finalizar deixando algo para os nossos queridos amigos “desigrejados” refletirem: Jesus escolheu apenas 12 homens para serem seus apóstolos, sendo que dentre eles um o traiu, outro o negou três vezes e o outro duvidou da Sua ressurreição. E, mesmo assim, Jesus não desistiu da Igreja...