quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Porque “Essa gente incômoda” não me incomodou nem um pouco

Raras vezes eu me disponho a escrever sobre algum tema que esteja repercutindo na mídia pelo simples fato de que, se há muita gente falando sobre um determinado assunto, eu automaticamente suponho que a maioria das grandes considerações que haveriam de ser feitas a seu respeito, senão todas, já foram formuladas e, portanto, não devo eu ser mais um a meramente reproduzir as opiniões já conhecidas do público em geral.

















Até ontem, cria eu ser este o caso do artigo “Essa gente incômoda”, de J. R. Guzzo, o qual tem causado indignação nos evangélicos: cantores, políticos e pastores já manifestaram repúdio. Contudo, após ler e reler atentamente a nominada publicação e de não encontrar nela qualquer motivo para queixas contra o jornalista de Veja, resolvi “dar um Google” e, para meu espanto, vi que quase ninguém mais havia tido a mesma impressão que eu acerca do texto.

Eis então meu singelo ponto de vista: faltou interpretação. A crítica do autor, conquanto sofisticada, foi  dirigida às supostas “elites pensantes” brasileiras, as quais, estas sim, consideram os evangélicos uma “gente incômoda”. A ironia refinada e o sarcasmo picante de Guzzo, infelizmente, serviram menos para mostrar que o povo evangélico não é nada aquilo que as más línguas o acusam de ser do que para denunciar o ódio que os ricos e intelectuais de esquerda sentem pelo brasileiro pobre, “moreno”, conservador e... crente!

O texto começa perguntando, de maneira retórica, “quem é contra a liberdade de religião no Brasil?”, para então responder: “mais gente do que você pensa, com toda a certeza, embora quase ninguém vá dizer isso em público, é claro”. A partir daí, o jornalista denuncia a antipatia generalizada da grande mídia e da maioria dos formadores de opinião pelos evangélicos causada pelo fato de estes, grosso modo, longe de fazerem do “apoio às diversidades” sua maior virtude, costumam ser  pessoas normais: trabalham, estudam e defenderem a família.

Examinando o contexto, todo mal-entendido é desfeito: “se você defende a ‘arte incômoda’, digamos, tem de estar preparado para conviver com a ‘religião incômoda’. Em todo caso (...) é bom saber que os evangélicos, muito provavelmente, são um problema sem solução”. Ou seja: os que defendem os abusos cometidos em nome da “arte incômoda” terão de suportar a inconformação dos defensores dos princípios éticos e morais de sua religião, uma “religião incômoda” para aqueles. A diferença é que a arte depravada tem como ser eliminada, já os evangélicos não.  

Assim sendo, não faço objeção alguma ao artigo em apreço, porém, deixo um pequeno conselho aos nossos queridos irmãos: precisamos ter certeza de que compreendemos um texto antes de criticá-lo. O crente só se torna realmente um incômodo quando ele interpreta mal o que lê, seja um texto jornalístico, um artigo científico ou a própria Bíblia. Não transformemos em inimigos aqueles que, em outras frentes de batalha, estão apenas lutando ao nosso lado. “Quem não é contra nós, é por nós” (Marcos 9:40). 

SE AINDA NÃO CONHECE O TEXTO QUE GEROU A POLÊMICA, LEIA-O AQUI